A comoção da sociedade por conta da morte trágica da menina Isabella - atirada de uma janela do sexto andar em São Paulo há duas semanas - produziu cenas, no mínimo, pitorescas para a história do jornalismo, com requintes de crueldade no que diz respeito às imagens.
Um post neste blog já havia mostrado a péssima escolha do editor de primeira página do jornal O Globo, que escolheu a imagem de um amontoado de fotógrafos e cinegrafistas tentando captar imagens do casal (pai e madrasta da garota) quando estes se entregavam, para estampar as páginas do jornal do dia. O resultado é que não se reconhecia na foto a imagem do casal, mas sim de um monte de capas de chuva que cobriam os profissionais e seus equipamentos.
Pois na tarde desta sexta-feira um legítimo pastelão foi protagonizado por estes pseudo-paparazzi, que arriscaram suas vidas e as de outros que passavam pelas ruas de São Paulo, ao perseguirem ensandecidamente e em alta velocidade os carros do pai e da madrasta de Isabella, quando ambos deixaram as delegacias em que estavam presos.
É certo que esta é a notícia da vez, até que a costumeira banalização da violência venha nos tirar deste choque para substituí-lo por outro. Afinal, foi assim que sempre se deu (a tragédia de Isabella não substituiu a garota torturada de Goiás?). Mas será que a imprensa não exagerou?
Câmeras de Tv transmitiram ao vivo o percurso dos dois carros, enquanto eles se abalaram pelas ruas da capital paulista, mostrando, mais do que os carros, o desespero dos fotógrafos se espremendo para obter uma melhor imagem dos acusados do crime.
O termo italiano Paparazzi foi cunhado a partir do plural de Paparazzo, sobrenome do fotógrafo responsável por captar as imagens não autorizadas de celebridades, em cenas do filme La Dolce Vita, de Frederico Fellini.
Os sebosos que sobrevivem a cata da imagem roubada ou doada de bandeja pelas celebridades já foram alvo de críticas e processos, além de filmes em que vêem retratada sua vida. Na última semana mesmo houve o caso da condenação dos fotógrafos que teriam provocado a morte da Princesa Diana em 1997, ao perseguirem em alta velocidade o carro em que ela estava, apenas atrás de uma foto.
Mas neste caso do casal suspeito da morte de Isabella, há um excesso. É possível tratar estes fotógrafos e cinegrafistas como paparazzi? Afinal, é o casal uma celebridade? E o que diria ao leitor/espectador comum a imagem de uma mulher ou de um homem atrás do vidro de um carro em alta velocidade tentando fugir das câmeras? Esta imagem valeria mesmo mais do que as mil palavras sobre as investigações do crime que estão jorrando excessivamente aos olhos e ouvidos desta nossa sociedade do espetáculo? São tão essenciais que justifiquem esta corrida frenética e transmissões ao vivo?
Espectadores nada passivos que, acompanhando com tal voracidade na mídia cada passo desta investigação e comprando nas bancas cada imagem desfocada, estaríamos nós em busca de uma resposta para a incrédula tragédia, ou apenas, sem perceber, nos alimentando morbidamente dela como passatempo?
11 de abr. de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário