Números impressionam.
São 2,1 mil hectares recheados de 350 obras de arte contemporânea, das quais 80 permanentes. O espaço, localizado a pelo menos 450 km do Rio e de São Paulo, os dois grandes centros culturais do país, fica a apenas 60 km de Belo Horizonte, atrai dois mil visitantes num final de semana.
Pessoas também impressionam.
Bernardo Paz, 59 anos, cabelos e barbas grisalhas, um empresário do ramo de siderurgia e mineração, colecionador de arte, conhecido do público mineiro porque seu irmão foi envolvido no escândalo do mensalão, e do público carioca, por ter laçado a artista Adriana Varejão, dois anos atrás. Amigo de Burle Marx e Tunga, responsáveis respectivamente pelo paisagismo do local e pela idéia de abri-lo ao público.
Histórias impressionam ainda mais...
Dizem que Bernardo vivia em Nova York 20 anos atrás e quase não falava de arte. Mudou. Convidou o amigo paisagista para trazer para Minas mudas exóticas, palmeiras, orquídeas, bromélias, e projetar, entre lagos espelhados e uma botânica impecável, o espaço que antes era apenas para abrigar sua pequena coleção particular e hoje é conhecido como um dos maiores centros de arte contemporânea do país, localizado numa cidadezinha chamada Inhotim.
Dizem que tim era um gringo fazendeiro que se instalou no local. Já inho era o equivalente da época a "senhor"... Daí o nome... E assim ficou. Simples. Mas dessa simplicidade e daquela que dizem ser encontrada na sede da fazenda em que Bernardo ainda mora, o público visitante nada vê.
Inaugurado há cerca de quatro anos, mas aberto ao público apenas no final de 2006, o Centro de Arte Contemporânea de Inhotim já recebeu a visita até do Príncipe Charles – lembram os moradores de cidades vizinhas tentando demonstrar a importância que o espaço ganhou e que na região ainda não se compreendeu ao certo.
O deslumbre ativado pelo apurado senso estético de Burle Marx fala mais alto ao visitante comum e não iniciado nesta plástica conceitual, ora sutil, ora impactante por seu gigantismo físico ou sensível.
Chamam Bernardo de megalômano. Talvez seja preferível outro verbete, da mesma letra M no Aurélio: Mecenas – Patrocinador generoso, protetor das ciências, letras e artes, ou dos artistas e sábios. Abrindo mão de guardar para si seus tesouros, ele cobra R$ 10 o ingresso inteiro para que esta coleção seja visitada entre quinta e domingo. Sem patrocínios. Sem participação do governo. Se o dinheiro do ingresso mantém os 400 funcionários, é uma dúvida...
Lá estão as obras da primeira dama de Inhotim, Adriana Varejão e da colombiana Doris Salcedo, que causou frisson em temporada londrina no ano passado. Os dois pavilhões inaugurados em março vieram somar-se a outros dez existentes no local e que, diz-se por aí, chegará a 26, um deles já sendo construído para Helio Oiticica, que hoje está representado pelo seu trabalho de 1973, a Cosmococa 5-Hendrix War, que está numa das três galerias coletivas.
Cada um desses artistas e outros tantos – Cildo Meirelles, Tunga, Laura Lima, Crhis Burden, Larry Clark – valem um post à parte. Aqui fica a necessidade de destacar a impressão causada por este centro que acaba sendo um centro educativo de arte, além de somente um espaço de apreciação da mesma.
Atraídos pelos jardins, pelos restaurantes, pelos espaços bem elaborados para curtir o verde, pelo burburinho de celebridades que o freqüentam, pelas dicas do boca-a-boca, o museu de Inhotim traz para o cotidiano de um público distante da arte contemporânea uma vivência mais próxima a ela.
Faz com que as pessoas parem por minutos para ver uma forma artística diferente do clássico quadro pendurado que se convencionou como exponencial da arte mundial na educação.
Vale e vale muito.
Mesmo que, depois da visita, entre um gole da cachaça local e uma linguicinha defumada no fim de noite das pousadas e restaurantes que agora se multiplicam na região, alguém afirme, citando uma obra específica com riqueza de detalhes para dar cinicamente substância às críticas: “Aquilo pode ser tudo, mas não arte”.
Os detalhes a serem criticados ficaram na mente.
São lembrados, marcaram de alguma maneira.
Cumpriram a meta.
Impressionaram.
Impressionante, não?
25 de abr. de 2008
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3 comentários:
adorei...vou esperar pelos proximos posts!
incrível!!!
Trata-se, de fato, de mais uma "lavanderia" de dinheiro público, patrocinada mais uma vez pelos mesmos bandidos, "amigos de Marcos Valério. Inhotim era apenas um hobby excêntrico pertencente a Bernardo Paz, irmão de Cristiano Paz, sócio de Valério. Bernardo Paz é um “playboy” que passou sua vida gastando a enorme fortuna deixada por seu ex-sogro, o falecido banqueiro João do Nascimento Pires, proprietário do extinto Banco Mineiro do Oeste.
Em 2002 foi fundado o Instituto Cultural Inhotim, entidade sem fins lucrativos, dessa forma, “isenta” de pagamento de impostos. Embora sujeito a fiscalização, ficou literalmente de fora das investigações do mensalão. Sua contabilidade no período das apurações do caso mensalão simplesmente evaporou, segundo informações de participantes das investigações.
Após essa transformação, os investidores e patrocinadores dos projetos de Inhotim, coincidentemente passaram a ser os mesmos que anteriormente eram clientes da SMP&B e DNA. É inegável que nas últimas décadas todo esquema de corrupção, desvio e lavagem de dinheiro, principalmente público, executado no Brasil, nasceu em Minas Gerais.
Agências de publicidade como SMP&B e DNA, junto com instituições financeiras como Banco Rural e BMG, desmontaram o patrimônio do Estado. Agora entra em cena o novo esquema, através da ONG Inhotim.
Os valores operados anualmente neste esquema ultrapassam R$ 150 milhões. Para dar “saída” ao dinheiro recebido, Inhotim passou a adquirir enormes áreas no município de Brumadinho.
Compraram escandalosamente, por vultuosas somas, gigantescas áreas sem qualquer valor comercial ou de mercado, por serem pirambeiras e mata virgem, todas situadas em áreas de preservação ambiental.
O preço alto pago era apenas para constar das escrituras. Na verdade, o valor pago era insignificante. Após esta operação, a diferença entre o valor pago e o valor da escritura estava “lavada”.
Evidente que as operações convencionais de superfaturamento de promoções e simulação de patrocínio continuaram a acontecer. Hoje, no cartório de Imóveis de Brumadinho, comprovadamente, Inhotim é a maior proprietária do município. Se avaliado a preço de mercado dos imóveis adquiridos, não chega a 0,5% do valor declarado.
Maiores informações: http://correiodalapa.blogspot.com/2009/07/inhotim-grande-lavanderia-mineira.html
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