No dia em que o mundo para (sem acento na nova ortografia) para ver a posse do que parece ser mais um salvador da pátria - o primeiro negro a ocupar o cargo de líder máximo do império americano - pelo menos um artista plático pode se dizer satisfeito por ter participado ativamente desta campanha saindo dela com os bolsos cheios, além de fama e histórias para contar.
Shepard Fairey é o autor do cartaz que espalhou-se por toda a América, em posters nos muros, camisetas, a atá capa da revista Time.
A arte foi feita sobre uma imagem de Barak Obama, ainda senador em 2007, feita pelo fotógrafo da Reuters, Jim Young (invertida no original - como abaixo), e se tornou ícone da esperança de mudança no governo americano no ano passado.
Acompanhada das palavras Hope, Progress, ou Change, os cartazes foram impressos por Fairey e pregados em grandes cidades durante convenções e comícios.
Foram cerca de 500 mil exemplares impressos e pelos quais o street artist chegou a passar uma noite na cadeia.
Esta foi a 15a vez que Fairey é preso por colar cartazes em áreas públicas ao longo de sua carreira, mas em entrevista concedidas no mundo todo, ele garante: "desta vez foi por uma boa causa".
A imagem de Obama fitando o horizonte, envolto nas cores radiantes da bandeira americana, tem inspiração declarada no célebre retrato de Che Guevara feito por Alberto Korda. em entrevista, o artista avaliou que Korda havia encontrado o ângulo perfeito do olhar de Che, mirando o futuro.
Para ele, independente da farda, do ar rebelde dos cabelos de Che, o olhar voltado para o futuro é o mesmo em ambos os casos.
Fairey já era conhecido desde os anos 80 quando participou do início da chamada arte guerrilha. Estampando o rosto do lutador francês de vale-tudo André, o Gigante num cartaz com a palavra "obey" (obedeça), Fairey fez uma crítica de alcance mundial à propaganda. Ali também há uma a Che, a boina, o cabelos revoltos, mas o olhar é outro. Lembra o realismo socialista. A ordem, a imposição.
E com isso, questiona a influência da propaganda sobre os indivíduos quase que os levando a pensar sobre o ato de consumo. "Obey" é um questionamento.
A fama agora conquistada fez com que o cartaz feito sobre a foto de Obama fosse parar na National Portrait Gallery, em Washington, e a fama fez com que o artista plástico que costumava a vender posters a US$ 75, tivesse todas as obras de sua mais recente exposição em San Francisco arrematada por valores que giram uma cifra bem maior: US$ 85 mil cada.
Pelo menos para um, o "Hope" Obama parece já ter surtido efeito.
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