29 de abr. de 2008


Miguel Rio Branco já foi homenageado aqui pelo blog, com um slideshow e citado em vários posts. Em abordagem sobre sua obra em grupo de estudo desenvolvido por Cláudia Tavares, junto ao Pólo de Fotografia, foram produzidas imagens à semellança de Miguel (como a que está ao lado, produzida por José Diniz) e textos sobre seu "modus operandi", sua obra e o contexto em que elas foram feitas, além das origens do fotógrafo. Chama a atenção nos textos que publicamos abaixo o destaque dado ao "berço" do do fotógrafo em contraste com os alvos de sua lente. O silêncio presente das obras de Miguel, fica catapultado pela sua "raiva" desconcertante e instigante a respeito de um submundo que clama por ser desvelado.

Seguem os textos.
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por Henrique Andrade


Nascido e criado em um ambiente completamente diferente daqueles em que busca suas imagens, Miguel Rio Banco mais parece fazer uma tentativa de conscientização dele mesmo em relação as tragédias que ocorrem no "Mundo Real": suas fotos trazem raiva, crueza, dureza.
Ao invés de nos trazer belos momentos fotográficos apenas para contemplação, procura fazer de sua arte um documento inquietante para mostrar as exclusões causadas por um sistema absurdamente injusto, usando cores fortes, revoltas, indignadas, tristes, saturadas.
São cores brasileiras. Brasileiríssimas! Cores de um Brasil agredido, roubado, corrompido e estuprado diariamente por seus políticos, por seus empresários e por seu próprio povo. Um Brasil que atrai e repulsa. E que jamais dará certo. Jamais!
Miguel Rio Banco expõe ainda as cicatrizes injustificáveis de uma violência desmedida, desnecessária e historicamente imbecil. Uma violência secular que parece não ter fim.
Quando usa P&B, mostra a aridez da vida de forma tão contundente quanto quando usa cores. E o faz com uma simplicidade ímpar.
Mas não posso deixar de observar que com as facilidades produzidas pelo berço ( mas “não é nossa culpa, nascemos já com uma benção”... ), fica fácil desenvolver arte. Não é o caso do pintor que improvisa a garagem da casa como ateliê ou do poeta que pede emprestado lápis e papel toda vez que a inspiração chega. Como dizem, “com dinheiro, é fácil!”.

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por Rodrigo Schneider



É meio intrigante ver o trabalho do Rio Branco, filho de diplomata, família rica, viajante do mundo inteiro. Suas obras mostram marcas, desgraças e a realidade de certas pessoas, quando poderia mostrar sinais de nobreza que consiste na sua natureza. Mas talvez seja justamente o fato de ser de uma família poderosa que ele escolheu “desvendar o sub-mundo”, nos fazendo confrontar nossa realidade com realidades dos integrantes desse mundo oculto.
As fotografias em si são belas, justamente o oposto das cicatrizes deixadas em nossas memórias quando lembramos o assunto retratado em cada obra. Rio Branco consegue transmitir através das fotos aquilo que parece que deveríamos enxergar.
Acredito que a sua busca de imagens marcantes não seja apenas para questões poéticas, mas sim críticas aos fatos documentados, expondo certas realidades.


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