30 de jan. de 2009

Cadernos Etíopes


* por Phillippe Machado

Recentemente recebi em minhas mãos um livro intitulado "Cadernos Etiopes", isso não teria nada de surpreendente, mas o autor era J. R Duran. Sendo ele um dos mais concorridos fotógrafos de nu do Brasil, pensei que se tratasse de um ensaio sensual realizado na África.
Mas não era, na verdade, trata-se da passagem do fotógrafo pela Etiópia, um dos muitos países africanos que visitou.

A capa semi rígida, que vem sendo usada pela editora Cosac Naify em algumas publicações com excelente resultado, dessa vez dificulta o manuseio do livro. As páginas precisam ser forçadas para se ver a imagem por inteiro, o que certamente irá causar uma descostura prematura do livro. Dois exemplos de sucesso desse mesmo formato são: Rockers, de Bob Gruen; e Cuba por Korda, de Albert Korda, ambos da Cosac.

Nas primeiras páginas Duran faz uma espécie de Diário de Bordo onde conta algumas histórias da viagem e justamente numa dessas passagens ele cita que utilizava uma Pentax 6x7 para fotografar, sempre com negativos.

O uso do médio formato só deveria reforçar a qualidade de definição das imagens, mas por incrível que pareça a coisa não funciona assim. O que vemos são imagens com alto contraste e sem definição.
Fato incomum em se tratando dessa editora e mais ainda de um fotógrafo criterioso e que baseia seu trabalho no mercado publicitário e editorial.

O livro, com 190 paginas, é composto em grande parte por retratos, e quase que invariavelmente os personagens estão se relacionando com a câmera, mesmo nas fotos das cerimônias.
É claro que deve ser quase impossível um homem branco, vestido, e munido de uma câmera (de médio formato) passar despercebido nas tribos onde os homens e mulheres são negros e andam com corpos seminus.

Certamente é uma viagem incrível, algumas imagens deixam isso claro, trata-se de um povo fascinante, os desenhos pintados nos corpos, os rituais, a dança, os olhares; pena que isso não possa ser apreciado plenamente.

Cadernos Etíopes - J.R.Duran
Editora Cosac Naify - 2008
190 páginas
Preço de capa: R$ 65
* Phillippe Machado é crítico de literatura fotógráfica do Pólo de Fotografia
e dirige a Livraria Dona Laura, em Ipanema, no Rio.

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