A capa da Vogue do mês de março trouxe à tona uma discussão semiótica. Alguns acusaram a capa de mau-gosto. outros de racismo. A idéia em ambas as críticas é de que o astro do basquete da NBA, LeBron James, mais parece o King Kong, carregando sua amada, que no caso é nada mais nada menos do que a nossa modelo Gisele Bundchen.
Será?
Depois de consultar vários blogs que retransmitiram a polêmica - e em todos há a concordância sobre a semelhança entre o gigante LeBron e o gorila mais famoso da história do cinema - penso que é preciso recorrer um pouco à teoria para tentar entender um pouco do que se passou na cabeça dos "revoltosos".
À luz do racismo, a própria idéia de aproximar um homem negro da figura de um macaco/gorila é recriminável. Sob a ótica do mau-gosto, a capa parece de fato ter ficado forçada com Gisele figurando mais como uma boneca de pano e que seria jogada para fora de cena a qualquer momento.
É interessante também buscar no "pai da semiótica", Charles Sanders Pierce, para lembrar que, sendo ou não intencional a aproximação das imagens por associação ou semelhança, a teoria da formação do juízo e da inferência acabam ocorrendo, devido ao background imagético do espectador. Ou seja, o fotógrafo pode até não ter tido a intenção consciente, mas a figura do gigante com sua loira indefesa poderia estar em seu inconsciente, mesmo que não fosse da forma pejorativa como enxergaram muitos dos que viram a capa da revista.
"Um juízo é um ato da consciência no qual reconhecemos uma crença, e uma crença é um hábito inteligente segundo o qual devemos agir quando se apresentar a ocasião. Qual é a natureza dessa recognição? Ela pode estar bem perto da ação. (...) Em geral, virtualmente resolvemos, numa certa ocasião, como se certas circunstâncias imaginadas fossem percebidas. Este ato que redunda em uma tal resolução é um ato peculiar da vontade, por meio do qual fazemos com que uma imagem, ou ícone, seja associado, de um modo peculiarmente vigoroso, com um objeto que nos é representado através de um índice. Este mesmo ato é representado na proposição, por um símbolo e a consciência dele preenche a função de um símbolo no juízo"
Pierce, em Semiótica
Um comentário:
acho mais preconceituoso quem vê o preconceito numa foto de um negro ao lado de uma loira...
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