13 de fev. de 2008

Blow-up

Por conta de uma palestra da artista plástica, Giselle Beiguelman, no Ateliê da Imagem, em que ela comentava sobre seu projeto code-up baseado no clássico Blow Up, de Antonioni, resolvi reassistir este filme, mais que obrigatório para fotógrafos e amantes da fotografia.

Para quem, por infelicidade, nunca viu essa obra-prima - que no Brasil recebeu o esdrúxulo título de "Depois daquele beijo" - o filme narra o episódio de um fotógrafo que acredita ter registrado sem querer um crime, ao captar imagens despretenciosas de um casal num parque local. Disposto a elucidar o mistério, ele amplia a imagem várias vezes para captar os detalhes que fugiram aos seus olhos o momento do clique.

Esta sinopse, entretanto, não traduz a série de questionamentos, devaneios, impressões, sentimentos (whatever) que o filme provoca. Bon vivant, acostumado a ser cercado de modelos que querem ser clicadas por ele, o fotógrafo - que não tem um nome no filme, vive no roteiro apenas um dia de sua vida na Londres frenética e psicodélica de 1966.

Logo no início do filme fica explícito o contraste entre a juventude dispersa, que caminha festejando - sabe-se lá o quê - de um lado para o outro, esbarrando em figuras tradicionais britânicas (freira, guarda da rainha, etc). Na personagem do fotógrafo fica concentrada a superficialidade daqueles dias, quando ele denota toda uma sexualidade latente ao fotografar a top model, para desprezá-la ao fim da sessão, da mesma maneira com que despreza os resquícios da fotoreportagem que fez com pessoas sem-casa, tão logo as fotos são ampliadas, ou mesmo com as atitudes de comprar uma hélice sem qualquer utilidade num antquário, ou ainda disputar o cabo quebrado de uma guitarra elétrica em um show de rock, para depois jogá-la fora.

Perdido, o fotógrafo vaga por esse mundo, meio que sem destino, até deparar-se com a tal foto no parque que lhe desperta o desejo cartesiano de comprovar a realidade.

Uma realidade que lhe fugiu aos olhos, mas que a máquina, a química, e os equipamentos de ampliação e reprodução lhe revelaram. No melhor estilo século 19, ressaltando possibilidades arrojadas de alargamento da visão com a máquina, o italiano Michelangelo Antonioni nesse seu primeiro filme de língua inglesa brinca com o espectador no jogo de realidade/ilusão até o limite para no final brindar-nos com uma cena inusitada e ontológica de clowns que encenam uma partida de tênis sem a bola.

Imaginar o que não se viu, a partir da sugestão da bola? e no caso da imagem de um cadáver, seria a busca da realidade ou a sua fuga?

Fica aqui uma palhinha do trailer de Blow Up, editada pelo próprio Antonioni para divulgação do filme. Quem não viu, corra JÁ para a locadora mais próxima!!!


Um comentário:

Silvio Moreia disse...

Gostaria de aproveitar esse espaço para acrescentar, a titulo de ilustração, quanto a narrativa do filme “Blow UP”. Essa historia na verdade faz parte de um conto do grande escritor Argentino, Julio Cortazar.
Afinal de contas uma das maiores características do escritor Argentino e que ele sempre esta brindando com a abordagem da natureza da realidade e do que e fictício. O que e real de fato? Quem tiver curiosidade pode conferir esse estilo em um dos seus contos chamado: “A Ilha do Meio Dia” que confere justamente aquilo que sentimos ou vemos e pode não ser a realidade. Parece ser uma questão sutil, metafísica, mas principalmente, reflexiva.
Inclusive o próprio contista aparece no filme em uma das cenas dos mendigos retratados na serie de fotos que o protagoniza, onde o fotografo de moda, Thomas (David Hemmings) prepara as para um livro.

E esse Blogg esta demais, hein??????
Continuem assim e sucesso a todos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Silvio Moreia