Polo de Fotografia: Abstracionismos

Seguindo a linha das exposições sugeridas aqui no blog, seria impossível não citar a excelente organização que mostra a carreira de José Oiticica Filho, em cartaz no Centro de Arte Hélio Oiticica (Caho) no centro da cidade. Inaugurado em 1996, o espaço em si já vale a visita. Mas o bom mesmo é ver de perto as 158 imagens organizadas sob curadoria dos filhos de Oiticica, César e Cláudio e do neto César Oiticica Filho, é passear pela evolução técnica concebida pelas experiências realizadas pelo fotógrafo, considerado um dos dez melhores do mundo pela Photographic Society of América.

Filho do militante anarquista José Oiticica, e pai do artista plástico Hélio Oiticica, que dá nome ao espaço cultural em que se encontra a exposição, José Oiticica Filho era professor de matemática, cientista e engenheiro, quando descobriu a fotografia em 1941. Motivado a registrar detalhes macros de borboletas para ilustrar sua produção científica, ele começou a inovar o conceito de linguagem visual, ao alterar a forma de documentação da realidade.
Recortando imagens, sobrepondo detalhes de uma foto na outra e reescrevendo a o real com luz estudada à exaustão, Oiticica livrou-se do compromisso de traduzir verdades absolutas em imagens, acompanhando uma tendência de seu tempo. Mais do que isso: ele foi muito além.
Olhando as imagens do segundo e terceiro andar do prédio, o espectador entra em contato com derivações, abstrações e recriações do mestre em ousadias geométricas. Negativo que vira positivo, é fotografado, vira negativo novamente, em processo repetido inúmeras vezes até que a imagem se torne completamente destacada do objeto real inicialmente fotografado... Nas mãos de Oiticica, até um mero pedaço de plástico vira arte, fotografado a partir linhas geométricas estudadas que compõem harmonicamente traços abstraídos a partir de sombras feitas pelas suas dobras.
É mágica, é arte, invencionismo fotográfico, por vezes ilusão de ótica.
Tudo junto. Deliciosamente belo.